Fanya Kaplan (1890–1918)

Tendência Autônoma Feminista
3 min readSep 3, 2020

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Fanya Yefimovna Kaplan ou Feiga Khaimovna Roytblat-Kaplan, nasceu em 10 de fevereiro de 1890 na região do Império Russo onde hoje se situa a Ucrânia.

De família judaica, uma de sete filhos se tornou uma revolucionária política ainda muito jovem, juntando-se ao Partido Socialista Revolucionário (PSR ou ESERS). Aos 16 anos foi presa em Kiev pelo envolvimento em um atentado à bomba e condenada à prisão perpétua em uma Katorga, um sistema prisional de trabalho forçado, servindo nas prisões de Maltsev, Akatuy e Nerchinsk que se localizam na Sibéria, onde perdeu a visão tendo-a recuperado parcialmente. Posteriormente foi mantida na prisão de Maltzevskaya, onde sofreu diversos castigos físicos a corpo nu como punição corporal disciplinar, prática que não era comum para presos políticos na época.

Em 3 de março de 1917 foi libertada após o início da Revolução Russa e derrubada do governo imperial. Por conta dos anos na prisão ela desenvolveu fortes traumas, sofrendo com intensas dores de cabeça e períodos de cegueira.

Kaplan se desiludiu com Lenin após resultado do conflito entre os socialistas revolucionários e o partido Bolchevique, tendo este último em 1918 dissolvido a Assembleia Constituinte da Rússia após os socialistas revolucionários derrotarem os bolcheviques numa eleição, e banido a maioria de seus opositores e outros partidos influentes, entre eles os socialistas revolucionários, que haviam sido os principais parceiros de coalizão até a revolta em Julho em oposição ao Tratado de Brest-Litovski.

Após tais acontecimentos, Kaplan decidiu matar Lenin por considerá-lo “traidor da revolução” e em 30 de agosto de 1918, disparou três tiros contra ele ao sair de uma fábrica em Moscou, tendo dois deles o atingido. Lenin sobreviveu, mas sua saúde nunca mais se recuperou completamente. Kaplan foi presa e interrogada pela Cheka, organização de segurança de Estado criada por Lenin em dezembro de 1917, e fez a seguinte declaração:

“Meu nome é Fanya Yefimovna Kaplan. Nome o qual fui registrada como prisioneira do campo de trabalhos forçados. Hoje atirei em Lenin. Eu fiz isso sozinha. Não direi de quem obtive meu revólver. Não vou dar detalhes. Eu tinha resolvido matar Lenin há muito tempo. Eu o considero um traidor da Revolução. Fui exilada em Akatui por participar de uma tentativa de assassinato contra um oficial czarista em Kiev. Passei 11 anos trabalhando duro. Depois da Revolução, fui libertada. Defendi a Constituinte e continuo a favor.”

Sendo executada em 3 de setembro de 1918, hoje completando 102 anos de sua morte.

Nos últimos anos diversos historiadores questionam a autoria de Kaplan no atentado, apresentando sua deficiência visual como principal argumento e atribuindo a autoria a outra socialista revolucionária, Lidia Konopleva, acreditando que seria muito mais reconfortante que Lenin tivesse sofrido uma tentativa de assassinato por uma mulher cuja personalidade está tão distante do estereótipo de heróis nacional. Sugere-se que ela tenha agido em nome de outras pessoas e que após sua prisão tenha assumido a responsabilidade exclusiva. Outro argumento aponta para a contradição entre o relato oficial soviético que dizia que ela foi presa imediatamente após a ação e um documento oficial onde consta a prisão de vários suspeitos.

Importante pontuar que Fanya foi uma das socialistas revolucionárias que compunham, junto a anarquistas, a oposição de esquerda ao governo bolchevique, e não uma opositora reacionária como propagandeavam na época.

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A Tendência Autônoma Feminista (TAF) é um coletivo de mulheres de orientação libertária que possui como objetivo construir a luta feminista revolucionária.

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