LUGAR DE MULHER É NA REVOLUÇÃO

Tendência Autônoma Feminista
16 min readMar 1, 2021

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A luta das mulheres não se resume em um século, muito mais que isso, houve resistência a todas formas de tirania e exploração cometidas tanto pelas igrejas, pelos reinados, pelos fascistas, burgueses e pela classe sexual masculina desde o início do patriarcado em diferentes países. Porém é importante ressaltar períodos históricos que marcaram a luta revolucionária, onde mulheres foram apagadas dos escritos, mulheres anarquistas e comunistas lutaram durante períodos de guerras e revoluções da mesma forma que os homens, mas por conta de uma estrutura patriarcal que exclui as mulheres como sujeitos políticos não tiveram a importância nos livros como seus companheiros de luta tiveram.

Trago aqui dois contextos diferentes, em países diferentes e ideologias que se alinham e que se afastam em diversos pontos. Mulheres comunistas que lutaram na Rússia Soviética e mulheres anarquistas que lutaram durante a Guerra civil espanhola, são de alguma forma semelhantes às batalhas travadas, lidando com problemas estruturais do patriarcado e tentando conquistar espaços dentro de períodos revolucionários do início do século passado. O foco é explicitar as reivindicações femininas e quais táticas adotaram ambas teorias para chegar ao objetivo de emancipação e igualdade, lutando contra os burgueses e também contra a dominação da classe masculina dentro do próprio movimento operário, muitas são as suas afinidades e reivindicações e é de vital importância a leitura materialista dessa história.

Antes de tudo devemos compreender que o materialismo histórico é uma ferramenta de análise muito importante que nós feministas devemos usar, e por isso mesmo trago aqui que a luta dessas mulheres não começaram no século XX, tanto as revolucionárias da Rússia e tanto as anarquistas desde meados do século XIX escreveram livros, fizeram greves, agitações de massas e estiveram nos fronts das lutas de classes, ressaltando as trabalhadoras da indústria têxtil que em ambos contextos tem uma história importante para ser relembrada. Mas não vemos a sua produção intelectual ser valorizada e publicada como são os escritos dos homens. A história não é somente aquela que é contada e sim aquela que é vivida, e é assim a história da classe sexual feminina.

Me limitarei aqui as convergências e as pautas que são de total importância para a classe sexual feminina como um todo, sabendo que a complexidade de suas experiências vão além de suas convergências, mas não tem como negar que existem estruturas semelhantes que nós brasileiras iremos ver nesta história.

Mulheres anarquistas e o desenvolvimento das pautas femininas

É de grande importância resgatar as fontes das envolvidas nesta luta, dando o protagonismo não somente da luta, mas também de como deve ser contada essa história. Por isso as fontes são de mulheres que participaram e historiadoras que se dedicaram a resgatar as memórias das Mujeres Libres.

Na Espanha do início do século XX as trabalhadoras industriais e também camponesas lutavam junto com seus companheiros em diversos ramos, o sindicato era um dos mais importantes meios de luta da classe trabalhadora anarquista, inclusive um grupo de mulheres em Barcelona no ano de 1933 reivindicavam pautas como salários iguais aos dos homens, saúde e direito à maternidade, e pautavam isso dentro dos sindicatos anarquistas antes mesmo da fundação de uma organização exclusiva de mulheres. Emma Goldman é uma das anarquistas mais conhecidas durante a metade do século XIX, já pautava questões cruciais pelo direito feminino, como amor livre, contra o casamento burguês, falava em abolição da prostituição e do tráfico de mulheres, era uma sindicalista e propagandista do anarquismo sendo uma referência para as mulheres que posteriormente surgiram na luta. Outra mulher que tinha ideais bastante progressistas era a Teresa Claramunt, uma das primeiras mulheres anarquistas que pautavam uma organização exclusiva de mulheres no final do século XIX porque percebia a necessidade de espaços exclusivos femininos.

Quando mulheres sindicalizadas e outras que ainda não conheciam o anarquismo se viram diante do governo fascista de Franco, não ficaram paradas. Elas viram a necessidade de uma luta onde mulheres fossem ouvidas e respeitadas, mas devemos lembrar que a Espanha era uma país extremamente católico e isso fazia com que as mulheres ficassem submissas não somente aos maridos mas a própria igreja. Uma das pautas mais comuns entre as anarquistas era o anticlericalismo e como a religião funcionava como um empecilho para libertação das mulheres, principalmente entre a classe trabalhadora espanhola que era massivamente analfabeta e entre as mulheres o analfabetismo era mais profundo por conta da própria estrutura patriarcal.

Um marco histórico foi a criação da revista Mujeres Libres lançada em 1936, inicialmente era uma mídia onde mulheres como Lucía Sanchez Saornil e Mercedes Comaposada, se dedicam a propagar textos e reflexões sobre a condição da mulher como mãe, esposa, falavam sobre a necessidade de construir um mundo sem hierarquias com perspectiva libertária, e sobre a liberdade coletiva criticando a luta pela liberdade individual, que na perspectiva delas não era emancipatória.

Em geral a revista servia de orientação para as mulheres e tinha o objetivo de chamar mulheres para a revolução espanhola e para derrotar Franco, as edições eram distribuídas dentro dos sindicatos. A revista também era muito crítica às organizações de mulheres liberais e sufragistas, além de questionar a forma política como os homens se organizavam, por isso apontava que mulheres liberais queriam os direitos masculinos de vida, que escravizavam os homens e consequentemente iriam escravizar as mulheres.

Inicialmente de forma espontânea as mulheres foram às ruas, e depois surgiu a federação nacional das Mujeres Libres. Existiram dois grupos que se uniram para a formação, e as pautas do primeiro grupo criado em 1935 eram a alfabetização em massa das mulheres encabeçadas pela Lucía e outras companheiras da revista, por outro lado existia o grupo de mulheres que pautavam os direitos trabalhistas, entre essas, estavam as mulheres da CNT, que em 1934 já se organizavam para discutir pautas exclusivas de mulheres, muitas participavam da juventude anarquista.

Para o desenvolvimento dessa luta elas obtiveram ajuda dos sindicatos, inclusive para pagar o local da primeira reunião realizada no teatro Olympia, apresentaram o grupo para mulheres de diversas idades e grande maioria analfabetas dispostas a lutar com os meios e possibilidades que cada uma tinha. Sara Berenguer foi uma dessas mulheres que entraram no Mujeres Libres sem saber absolutamente nada, e com o tempo começou junto com outras a participarem de conferências, se tornou uma militante importante inclusive fazendo ações contra o governo espanhol que bombardearam anarquistas na época. Mas muitas mulheres não compreenderam a necessidade de uma organização exclusiva, e não queriam saber de feministas, crítica essas que eram notáveis entre as anarquistas se formos olhar pro contexto da luta sufragista, mas na apresentação do grupo contrapondo essa crítica explicaram a necessidade das mulheres lutarem por suas pautas, que eram diferentes das reivindicações dos homens e existia uma necessidade de ajudar as mulheres naquele período. Inicialmente, em torno de 20 mil mulheres se organizaram, atingindo 40 mil até 1939.

Declarada a guerra na Espanha se agruparam e fizeram oficinas para as mulheres aprenderem mecânica e convidaram massivamente mulheres para participarem da escola que elas tinham fundado, em toda Espanha existia essas oficinas, sempre lembrando dos limites que possuíam por conta da guerra civil. Durante a guerra muitas mulheres tiveram que trabalhar, e com isso foi criado creches volantes para as trabalhadoras participarem da vida sindical. Montaram programas de aprendizagem junto com os sindicatos não somente na área têxtil que era grande maioria mulheres, mas também em química e transportes. Os homens ajudavam, mas as consideravam um estorvo dentro da luta, e é de se esperar que dentro de uma sociedade patriarcal e capitalista as mulheres sempre estavam abaixo tanto na parte intelectual e político, porque a socialização era pra vida privada dentro de suas casas, e muitos criticaram a participação delas, enfrentam não somente dentro dos sindicatos o machismo dos homens mas em seus lares, contrapondo seus maridos.

As anarquistas construíram os “liberatórios de la prostitución” onde mulheres que desejavam sair da prostituição poderia buscar apoio e formação para sairem da condição de mulher prostituida, elas tinha em mente que a prostituição não era um trabalho, mas sim a condição mais baixa que uma mulher se encontra, sobrevivendo e vendendo seu corpo para não morrer de fome, por isso a importância de um alojamento que tinha a proposta de mudar a condição desta mulher era um dos principais meios de ajuda juntamente com trabalho de base para que essas mulheres não dependam de vender seu corpo, sendo o objetivo último exterminar a prostituição.

Vale ressaltar que a desapropriação de extensas propriedade de terras e fábricas e da autogestão que foi efetivada entre a classe trabalhadora foi muito importante para produções sociais e culturais e agremiações produzidas por essas mulheres, esses espaços estimulou elas procurarem uma nova constituição de si, e subvertendo as normas burguesas de mãe, esposa e donas de casa defendiam o lema “sem deuses, sem pátria, sem marido e sem mestres” como uma forma de repudiar a religião até o patriotismo.

Apesar da grandeza do movimento nunca foram reconhecidas como quarto ramo do conselho geral do movimento libertário e nem a permissão para entrar no plenário, na época a única que pode foi a Emma Goldman e somente como observadora. Havia na época a FAI, AIT e CNT como participantes do movimento libertário, não aceitando o grupo, uma das companheiras Federica Montseny pode assistir como militante da CNT, e no último dia do plenário deram voz a mesma por conta da sua qualidade como militante sindicalista.

Elas tinham em mente que a luta pela emancipação das mulheres e a luta de classes não eram separadas, uma não avançaria sem a outra, e isso as torna uma das pioneiras da luta contra o patriarcado e contra o capitalismo, enxergando um horizonte socialista que pautasse a luta das mulheres dentro do movimento anarquista. Em 1939 os anarquistas fugiram por conta da perseguição e com isso Mujeres Libres deixou seu legado, esmagado pelo governo espanhol.

Mulheres Marxistas e o desenvolvimento das pautas femininas

Na Rússia antes mesmo da união soviética o tema jénski voprós - “questão feminina” ou das “mulheres” já era vasto na literatura russa desde meados do século XIX, e apesar de ter existido uma vasta bibliografia feminina os referenciais sobre a questão das mulheres russas são em grande parte masculinos. Então antes mesmo das mulheres marxistas, existiu uma história de resistência feminina no país que é de importância muito significativa. Mas nesse texto focaremos nas mulheres marxistas que é o intuito das reflexões propostas.

Antes mesmo de tratar de assuntos específicos das mulheres comunistas, é importante relembrar as associações criadas que são inúmeras e destacarei as mais importantes para o entendimento da dimensão da potência dessas mulheres.

Entre o final do século XIX e início do século XX inúmeras associações foram criadas, como a Sociedade de Filantropia Recíproca, a Sociedade Russa de Defesa das Mulheres, o Partido Progressista das Mulheres e o Jenotdiél que se tratava de um departamento de mulheres dentro do secretariado do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, criada por Aleksandra Kollontai e Inessa Armand em 1919, mantendo suas atividades até 1930.

Outra associação de muito importância criada é a Liga Ravnoprávia Jênschinv (Liga pela Igualdade de Direitos das Mulheres) que organizou a marcha das mulheres em 8 de março de 1917 sendo considerado o estopim das revoluções russas quando milhares de trabalhadoras da área têxtil, iniciaram uma greve geral manifestando-se contra a fome, o tsarismo e o governo provisório que não havia incluído o sufrágio feminino na sua agenda.

Outro marco para a determinação do 8 de março como Dia Internacional das Mulheres foi na Conferência Internacional das Mulheres Comunistas em 1921, relembrando a marcha histórica das operárias têxteis, foi oficialmente determinado em 1922 o dia oficial do 8 de março.

Começando pela ativista Russa com origem judaica, Anna Andréievna Kalmánovitch, tornou-se feminista radical após a revolução de 1905, sendo ela uma das primeiras mulheres a falar publicamente sobre o direito das mulheres e a emancipação dentro do sistema patriarcal. Como muitas comunistas, apresentou-se no I Congresso de Mulheres de Toda a Rússia, e também no I Congresso de Toda a Rússia Pela Luta contra o Comércio de Mulheres em 1910. Após a Revolução de Outubro seu destino é desconhecido, tendo últimos registros na sua participação na Liga da Igualdade de Direitos das Mulheres.

Sob a frase “Uma óbvia e simples verdade ainda não penetrou a consciência social: de que como são as mulheres, assim serão seus filhos, assim será a sociedade”, tirado do artigo - Algumas palavras sobre o feminismo - podemos entender as lutas que precipitava no começo do século XX. Retrata a árdua luta pelo direito à voz e o protagonismo que as mulheres desejavam. A elaboração de teorias que a metade da humanidade estava de fora dos assuntos políticos e sociais eram postos por femininas na época, principalmente as mulheres operárias, que estavam na ignorância total da sua condição como mulher trabalhadora. Tanto homens conservadores e os de esquerda entendia o feminismo com uma guerra aos homens, sendo que estava evidente a luta contra o poder masculino de dominação da classe feminina, sendo esta luta contra a unilateralidade da ordem social machista, e que os tempos onde as mulheres operárias sem voz precisava ser superado em prol do bem comum tendo o direito de participar dos assuntos da sociedade.

Desde os liberais até os sociais-democrata colocavam na sua agenda a igualdade da mulher, porém na prática serviam de certa forma como adorno para o programa político, por isso, acreditava assim como as anarquistas, que não se deve esperar a liberdade dos homens, não importa qual, nós mesmo devemos defender nossos direitos, a história nos ensinam que os oprimidos chegando ao poder, tornam-se opressores, então as mulheres devem se colocar em uma posição no qual os homens não possam oprimir-las.

Diante disso, temos exemplos dentro do partido que as mulheres eram hostilizadas quando pautava o feminismo e a luta pela sua emancipação, grande parte porque era massivamente composta por trabalhadores e a dificuldade da inserção de trabalhadoras nas fileiras do partido era por conta da tripla jornada de trabalho, e os homens se negavam a divisão das tarefas domésticas. Por isso começa a luta travada por mulheres comunistas a criar mecanismos para desafogar as mulheres das funções domésticas sendo vitais para o desenvolvimento político e intelectual da classe feminina.

Inessa Fiódorovna Armand foi uma feminista que se destacou atuando como bolchevique, escreveu inumeros panfletos sobre a liberdade feminina e contra a familia tradicional burguesa. Uma das fundadoras junto com seu companheiro de uma escola para camponeses perto de Moscou, onde lecionava. Se tornou também presidente do Conselho de Economia Nacional e também comandou o departamento de mulheres do Comitê Central do Partido Comunista (bolchevique).

Armand foi uma das críticas do movimento de mulheres burguesas percebendo que as pautas pelo sufrágio e libertação feminina era opostas a das mulheres trabalhadoras, assim como as mulheres anarquistas ela também entendia que a libertação das mulheres trabalhadoras só se daria com a união de classes, a mulher burguesa tinha interesses da sua própria casta e por isso, achava que nenhuma trabalhadora deveria se unir a essas mulheres. Defendia a entrada das mulheres no front das lutas e o apoio ao exército vermelho, somente assim elas teriam o protagonismo e suas vozes ouvidas, o partido comunista era uma das vias de libertação das mulheres, por este meio trabalhadoras estavam tendo direito a terras e a liberdade de criticar o casamento tradicional, que por outro lado, o capitalismo escravizava as mulheres nas fábricas, nas terras e dentro das casas.

Nadiéjda Konstantínovna Krúpskaia era pedagoga, crítica literária e revolucionária. Participou dos círculos de estudantes marxistas e operários e posteriormente entrou para a União pela Libertação da Classe Operária, também fez parte do Comitê Central do Partido Comunista. Além de escrever sobre temas políticos, tratou de literatura e questões do ensino de literatura para crianças e jovens. Como interessada na questão da educação desde a infância, escreveu sobre a necessidade de uma mudança total na educação de meninos e meninas, observando a vontade de meninos de aprender bordado e incentivando a prática dos afazeres domésticos para ambos sexos. Desta forma evitaria o peso do trabalho doméstico que recai sempre as mulheres, aprisionando-as dentro de casa, e não desenvolvia o trabalho intelectual e nem revolucionário para as mudanças do sistema.

Como ateia, se dedicou a escrever sobre como a religião afetava mais as mulheres por conta da privação da participação política e social do qual os seus maridos tinham acesso, e por isso a religião deixaria de existir ou diminuiria drasticamente seus fiéis se as mulheres tivessem acesso a educação e compartilhamento dos afazeres de casa entre os companheiros, na ocasião a igreja era o único ambiente que as mulheres compartilhavam com outras pessoas, e por isso a dedicação a religião era a única fuga da escravidão doméstica.

Nas guerras houveram uma mudança drástica de como se constituiu as famílias, mulheres tiveram que trabalhar, com a morte em massa de homens que tinham ido para a guerra, e com isso ganhando uma nova configuração familiar, mulheres ganharam independência psíquica e liberdade das mãos dos maridos, mas por outro lado, estavam na miséria e a fome assolava os lares de mães e crianças, sendo assim, as mulheres se viam obrigadas a se prostituírem por comida e não é novidade que a prostituição foi e ainda é usada como crimes de guerra, e por isso as marxistas defendiam que o governo protegesse as mães, a maternidade e os recém nascidos, construindo creches e jardins de infância, colônias e alojamentos infantis, espaços para a educação e alimentação segura. O governo soviético segundo a marxista não mediam esforços para isso acontecer, porém ainda era pouco, porque o infanticidio aumentava nesse período de guerra, onde mulheres deixavam seus filhos nas latrinas e condenavam à fome, um dos motivos principais era por conta de não ter abortos legalizados colocando em cheque o sistema burguês. Criticar o capitalismo e discutir seu fracasso é discutir uma ampla categoria de mulheres que precisam controlar a procriação, é discutir a pobreza, a desigualdade social segundo a Krúpskaia.

Outro elemento é a criação de diversas leis que destinam a igualdade de sexo no partido comunista, uma delas foi a lei que libertam as mulheres camponesas dos maridos, que eram escravas dos homens nos países feudais e capitalistas, mas as comunistas viram que não era suficiente somente a lei, porque era tão profundo as raízes dessas opressões que precisavam trabalhar para eliminá-las da vida cotidiana, social e familiar. Um dos fatores principais era as mulheres estarem sobrecarregadas com os trabalhos domésticos e sua coletivização era essencial para a eliminação dessas opressões.

No I Congresso Nacional das Mulheres Trabalhadoras foi discutido também a necessidade de uma “economia coletiva” substituindo o trabalho doméstico por cozinhas comunitárias, lavanderias centrais, cooperativas de limpeza de casas e uma introdução de uma educação igualitária com o foco na disciplina dos e das trabalhadoras, alterar a compreensão humana e destruir o egoísmo que impedia o desenvolvimento do socialismo.

Aleksandra Mikháilovna Kollontai foi uma escritora, jornalista e revolucionária, começou a escrever na imprensa em 1898, deixando uma vasta obra que vai desde ficção até artigos políticos. Após testemunhar o Domingo Sangrento na Rússia, se filiou ao Partido Social-Democrata Russo, também foi uma das organizadoras do I Congresso de Mulheres de Toda a Rússia e foi uma das criadoras do Jenotdiél (Departamento de Mulheres).

Kollontai tem fortes críticas ao movimento de mulheres burguesas da época, que não estavam preocupadas em mudar a condição econômica das mulheres trabalhadoras, mas somente o lugar delas mesmas dentro do estado capitalista, enquanto as burguesas estavam falando sobre universidades e independência as trabalhadoras estavam sendo escravizadas pelas fábricas nos piores postos e nos lugares menos remunerados da sociedade. Para as marxistas a condição econômica do capitalismo tornou o fardo ainda mais pesado para as mulheres, tendo sua tripla jornada de trabalho como trabalhadora, mãe e donas de casa. A situação da proletária era descrita por elas como um inferno a ser vivido na terra. Pontua que a luta das mulheres burguesas eram somente para ocupar cargos e espaços sem olhar pra uma luta coletiva, o movimento individualista era escrachado pelas comunistas trabalhadoras, onde via nos companheiros trabalhadores a verdadeira organização de classe, por isso não tem como falar em libertação e luta das mulheres na Rússia neste contexto, se não falarmos do partido comunista, que nas suas leis e fileiras de luta propuseram mudanças radicais na condição feminina proletária, sendo somente efetivado com a inserção de mulheres e a luta contra o machismo dentro do partido.

Analisou também a configuração burguesa de casamento, fundada na propriedade privada, transformou a vida até então mais coletivizada dos feudos, sendo esta outra configuração de família que também não tornava a mulher livre, em verdadeiras prisões onde os homens burgueses exploravam duplamente as mulheres e os homens, e a mulher carregando maior ainda o peso pela sua condição reprodutiva.

O desmonte dos direitos das mulheres se deu no período stalinista e no meio de duas guerras mundiais, assim então deixando seu legado.

As revolucionárias comunistas analisaram de forma materialista aspectos fundamentais das opressões sofridas pelas mulheres, as mulheres anarquistas também observaram os aspectos gerais como a religião,casamento, prostituição, capitalismo e patriarcado, propondo através da base as mudanças necessárias para o avanço da luta.

Conclusão

Através dessa leitura deveríamos analisar as condições gerais das mulheres brasileiras, usando como base o materialismo destas feministas, encarando as especificidades e suas lutas globais contra o patriarcado. Precisamos nos organizar com as nossas, e também com toda a classe trabalhadora para planejar, estudar, analisar e executar a mudança que tanto precisamos. As batalhas dessas mulheres não foram em vão, por conta delas e de muitos outros movimentos, inclusive as feministas da América Latina, avançamos em vários aspectos da classe sexual feminina, mas todas compreendem que a luta é longa e que o movimento de massas de mulheres, a expropriação das terras dos capitalistas, a reconfiguração da educação primária, a destruição da prostituição, a luta pelas condições básicas de educação libertária e igualitária continuam sendo importantes nos dias de hoje.

No Brasil do Século XXI as mulheres massivamente estão em condições iguais ou até piores que as mulheres espanholas e russas, somos esmagadas pela colonização, somos trituradas por conta do feminicídio, estamos passando fome e a prostituição está em niveis alarmantes no nosso pais, além de estamos nos empregos mais precarizados a pandemia fez com que o desemprego em massa de mulheres subissem por conta do trabalho doméstico e do cuidado que historicamente é destinado a nós. Em períodos em que o fascismo está forte no mundo todo as consequências são severas demais para nossa classe. As únicas que podem destruir o patriarcado e o capitalismo somos nós mesmas, não haverá mudança se nós em meio às cinzas não se erguer e destruir nossos opressores. Nossa guerra é contra o imperialismo, contra os colonizadores e também contra o patriarcado que dia após dia nos torturam dentro de casa através dos homens, não aceitando a separação nos colocando uma arma na cabeça, cometendo estupros, abusos contra as crianças e na maioria das vezes jogando toda responsabilidade de educação e alimentação nas costas da mulher. A deplorável situação da mulher brasileira está ligada diretamente com o racismo e a pobreza, com o abandono paterno, com a violação do estado masculino brasileiro que dia após dia se torna cada vez mais fascista, o fardo de ser mulher no Brasil é um peso que somente nós podemos destruir. Que a luta não tenha sido em vão, precisamos resgatar a história da nossa classe e entender do porque sobrevivemos!

Mulheres, lutemos!

Referências:

Mujeres Libres:anarco-feminismo e subjetividade na Revolução Espanhola - Margareth Rago

Documentário Mujeres Libres

https://www.youtube.com/watch?v=xvOz-VfEwgk&t=2h884s&ab_channel=bibliotecaterralivre

A Revolução das Mulheres: Emancipação feminina na Rússia Soviética - Editora Boitempo

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Tendência Autônoma Feminista

A Tendência Autônoma Feminista (TAF) é um coletivo de mulheres de orientação libertária que possui como objetivo construir a luta feminista revolucionária.