Tendência Autônoma Feminista
4 min readNov 30, 2020

O indivíduo, a sociedade e o Estado

[... A dúvida reina no espírito dos homens, pois nossa civilização treme em suas bases. As instituições atuais não mais inspiram confiança e os mais inteligentes compreendem que a industrialização capitalista vai contra os próprios objetivos que diz perseguir. O mundo não sabe como sair disso. O parlamentarismo e a democracia periclitam e alguns creem encontrar salvação optando pelo fascismo ou outras formas de governos “fortes”. Do combate ideológico mundial sairão soluções para os problemas sociais urgentes que se apresentam atualmente: crises econômicas, desemprego, guerra, desarmamento, relações internacionais, etc.

Ora, é dessas soluções que dependem o bem-estar do indivíduo e o destino da sociedade humana. O Estado, o governo com suas funções e seus poderes, torna-se, assim, o centro de interesse do homem que raciocina. Os desenvolvimentos políticos que ocorreram em todas as nações civilizadas levam-nos a fazer essas perguntas: desejamos um governo forte? Devemos preferir a democracia e o parlamentarismo?

O fascismo, sob uma ou outra forma, a ditadura, quer seja monárquica, burguesa ou do proletariado, oferecem soluções aos males ou às dificuldades que atormentam nossa sociedade? Em outros termos, conseguiremos apagar as taras da democracia com a ajuda de um sistema ainda mais democrático, ou devemos cortar o nó górdio do governo popular com a espada da ditadura? Minha resposta é: nem um, nem outro. Sou contra a ditadura e o fascismo, e oponho-me aos regimes parlamentares e às pretensas democracias populares.
É com razão que se falou do nazismo como de um ataque contra a civilização. A mesma coisa se poderia dizer de todas as formas de ditadura, opressão e coerção, pois o que é a civilização? Todo o progresso foi essencialmente marcado pela extensão das liberdades do indivíduo em detrimento da autoridade exterior, tanto no que concerne à sua existência física quanto à política ou econômica.
No mundo físico, o homem progrediu até controlar as forças da natureza e utilizá-las em seu próprio proveito. O homem primitivo realiza seus primeiros passos na estrada do progresso quando logra produzir fogo, triunfando assim sobre o próprio homem, e reter vento e captar água.
Que papel a autoridade ou o governo desempenharam nesse esforço de melhoria, invenção e descoberta? Nenhum, ou melhor, nenhum positivo. É sempre o indivíduo quem realiza o milagre, geralmente a despeito das proibições, das perseguições e da intervenção da autoridade, tanto humana quanto divina.
Da mesma forma, no campo político, o progresso consiste em afastar-se cada vez mais da autoridade do chefe de tribo, de clã, do príncipe e do rei, do governo e do Estado. Economicamente, o progresso significa mais bem-estar para um número de pessoas incessantemente crescente. E, culturalmente, ele é o resultado de tudo o que se realiza algures: independência política, intelectual e psiquica cada vez maior.
Nessa perspectiva, os problemas de relação entre o homem e o Estado revestem uma significação completamente nova. Não é mais questão de saber se a ditadura é preferível à democracia, se o fascismo italiano é superior ou não ao hitlerismo. Uma questão muito mais vital se nos apresenta: o governo político, o Estado, é proveitoso para a humanidade? Qual é sua influência sobre o indivíduo?
O indivíduo é a verdadeira realidade da vida, um universo em si. Ele não existe em função do Estado, ou dessa abstração denominada “sociedade” ou “nação”, que não é senão um ajuntamento de indivíduos. O homem sempre foi e é – necessariamente – a única fonte, o único motor de evolução e progresso...]

[... A palavra Estado designa o aparelho legislativo e administrativo que trata de certos negócios humanos – e, na maioria das vezes, trata mal. Ele nada contém de sagrado, de santo ou de misterioso. O Estado não tem consciência, não é encarregado de uma missão moral, não mais do que uma companhia comercial seria encarregada de explorar uma mina de carvão ou uma ferrovia.
O Estado não tem mais realidade do que os deuses ou diabos. São apenas reflexos, criações do espírito humano, pois o homem, o indivíduo, é a única realidade. O Estado é só a sombra do homem, a sombra de seu obscurantismo, de sua ignorância e de seu medo.
A vida começa e acaba com o homem, o indivíduo. Sem ele não há raça, humanidade, Estado. Nem mesmo sociedade. É o indivíduo que vive, respira e sofre. Desenvolve-se e progride lutando continuamente contra o fetichismo que ele nutre com respeito às suas próprias invenções e, em particular, ao Estado...]

Livro completo: https://anarquismopiracicabaeregiao.files.wordpress.com/2010/02/o-individuo-a-sociedade-e-o-estado1.pdf

Tendência Autônoma Feminista

A Tendência Autônoma Feminista (TAF) é um coletivo de mulheres de orientação libertária que possui como objetivo construir a luta feminista revolucionária.